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Jaime I, o Conquistador (1213-1276)[1]

Jaume I nasceu em 1 de fevereiro de 1208, em Montpellier, filho de Pedro o Católico e de Maria de Montpellier, cujo matrimônio desavindo havia, de fato, acabado antes do seu nascimento. Por isso, o rei foi obrigado a explicar na Crônica[2] que, a pedido de um barão, a incomunicação entre os cônjuges foi quebrada uma única noite, na qual foi engendrado. Posteriormente, poetas e cronistas construíram uma lenda acerca do seu nascimento, segundo a qual o rei Pedro fora enganado e levado ao leito de Maria de Montpellier, quando acreditava que era de uma dama da qual estava enamorado.

Os seus três primeiros anos de vida foram passados ao lado da sua mãe, mas depois foi separado e posto em poder de Simon de Montfort, em Carcassonne, com a garantia do pacto do seu futuro matrimônio com a filha deste nobre, que Pedro, o Católico, havia subscrito para buscar caminhos de paz no meio da cruzada contra os albigenses que devastava o Languedoc e que aquele nobre encabeçava. A batalha de Muret, em 1213, na qual Pedro o Católico foi derrotado e morto pelos cruzados franceses, deixou Jaume I órfão e em poder do inimigo do seu pai. Entretanto, o papa Inocêncio III ordenou que o infante, que seria rei, fosse entregue aos seus súditos catalães e aragoneses. Com efeito, no ano de 1214, ele foi levado para a Catalunha e confiado ao mestre do Templo, Guillem de Montredon, que se ocupou da sua educação. Naquele mesmo ano, as Cortes gerais dos catalães e dos aragoneses, reunidos em Lleida, juraram-no como rei. Sob a supervisão da Santa Sé, foi constituído um governo regente presidido pelo tio do rei, o conde Sancho, que governou os reinos até os fins de 1218. Iniciou-se então o governo pessoal de Jaume I, quando tinha somente dez anos, se bem que o poder era exercido pelos nobres da facção contrária ao conde Sancho, os quais tinham forçado a sua saída do governo e que formavam o seu conselho. Em julho de 1219 foi constituído um novo conselho regencial designado pelo papa e formado por Espàreg, arcebispo de Tarragona, Ximèn Cornel, Guillem Cervera e Pedro Ahonés.

Pouco tempo depois, em 6 de fevereiro de 1221, Jaume casou-se com Eleonor de Castela, em Ágreda, quando tinha somente treze anos. Deste matrimônio nasceu um filho, Afonso, em data imprecisa, entre 1223 e 1228, ano no qual ele foi reconhecido como herdeiro da Coroa catalano-aragonesa. O matrimônio foi anulado no ano de 1229 por causa do parentesco entre os cônjuges, e o infante Afonso teve de ser legitimado.

Os tempos da adolescência de Jaume I foram difíceis porque as querelas nobiliárias alteraram a ordem pública na Catalunha e em Aragão. Primeiro foi o conflito, pela sucessão de Hermenegildo [Ermengol] de Urgell, entre os defensores dos direitos da condessa viúva e os da sua filha Aurembiaix e Guerau de Cabrera. Este último ocupou o condado enquanto Aurembiaix residia em Castela. Depois o rei enfrentou-se com os Montcada, mas com tão má fortuna que ficou retido com a rainha, em Saragoça, durante umas semanas em poder dos nobres revoltados.

Depois destas querelas, o rei levou ao fim a sua expedição contra os sarracenos e tentou tomar Peníscola, no verão de 1225. Porém o cerco fracassou. Jaume I não desanimou e programou para o ano seguinte outra expedição contra o reino islâmico de Valência, mas não conseguiu o suporte dos aragoneses e teve de pactuar tréguas com Abu Said, o último governador almôada de Valência, que era praticamente independente. Mas Ahonés tentou quebrar esta trégua e o rei o impediu com tanta má sorte que Ahonés morreu no enfrentamento com os soldados de Jaume I.

A morte de Ahonés desencadeou uma sublevação da nobreza e das cidades aragonesas que formavam uma coalizão contra o rei nos anos de 1226-1227. Quando esta questão se resolveu, o conflito do condado de Urgell voltou a abrir-se, pois a sua titular legítima, a condessa Aurembiaix de Urgell, voltou ao reino catalano-aragonês e reclamou o apoio do rei contra os Cabrera, que não queriam lhe devolver o condado. Os Cabrera aliaram-se com os Cardona e o rei então tomou as armas contra eles para conseguir, com a ajuda dos Montcada, a devolução do condado a Aurembiaix.

A conquista de Maiorca (1229)

Apesar de que a intenção inicial de expansão de Jaume I estivesse voltada para Valência, a primeira grande expedição foi em Maiorca, um objetivo que parecia muito mais difícil, já que solicitava uma frota e exigia uma organização naval notável para o fornecimento de exército em campanha. Até o reinado de Jaume I todas as esquadras usadas para operações de conquista dos catalães tinham sido abastecidas pelas cidades marítimas italianas, Gênova e Pisa, com contribuições próprias muito limitadas. Agora, a expansão do comércio catalão ativou a construção naval e o rei podia contar com as suas próprias forças para levar ao seu fim a expedição.

Alguns incidentes marítimos que tinham sido produzidos pelos sarracenos de Maiorca durante o ano de 1226 foram o pretexto para levar a cabo a conquista, que tinha o suporte do estamento mercantil catalão. Mas não se tratava somente de acabar com alguns núcleos de corsários e piratas; havia ali a percepção clara que a possessão das ilhas era necessária para assegurar o desenvolvimento político e comercial da Catalunha, o que podia resultar imediatamente grave se esta possessão continuasse em mãos islâmicas ou fosse conquistada por uma outra potência cristã. A expedição, que se preparou durante todo o ano de 1228 com umas Cortes gerais em Barcelona as quais outorgaram um subsídio ao rei, o bovatge, saiu finalmente de Salou, Tarragona e Cambrils em 5 de setembro de 1229.

A conquista deste reino dentro do mar, como a Crônica do monarca a qualifica repetidamente, foi uma proeza para a Catalunha e para o próprio rei, então um jovem de 22 anos. Teve duas etapas: a primeira entre setembro de 1229 e outubro de 1230, e a segunda entre maio e julho de 1231. Na primeira etapa, depois de desembarcar em Santa Ponça, o exército de Jaume I sitiou a capital, a Cidade de Maiorca. Esta não pôde ser tomada nem saqueada até o 31 de dezembro, depois que uma oferta de capitulação foi rejeitada pela oposição de uma parte da nobreza catalã. A segunda etapa completou o domínio da ilha com a rendição dos sarracenos que se refugiaram na serra de Tramuntana depois da queda da capital. Nesta segunda permanência do rei em Maiorca, onde não contava então com a força militar suficiente para completar a conquista de todas as ilhas, negociou com as autoridades de Menorca o Tratado de Capdepera (17 de junho de 1231), pelo qual a ilha reconheceu a soberania de Jaume I e ficou estabelecido uma espécie de protetorado catalão. Em troca, o monarca confiou a conquista de Eivissa (Ibiza) ao infante Pedro de Portugal e ao conde do Rossilhão, Nuno Sancho, desde que a levassem a cabo no prazo de dois anos. Como não cumpriram esta condição, perderam o direito à conquista, direito que foi outorgado ao arcebispo de Tarragona, Guillem de Montgrí, e ao seu irmão, Bernat de Santa Eugènia. Finalmente, também o infante Pedro de Portugal participou na empresa, que esta vez foi materializada no ano de 1235 com a conquista da cidade de Eivissa. Terminada a conquista da ilha, todos os três participantes repartiram de forma proporcional ao contingente militar que cada um tinha levado à empresa.

O repartimento de Maiorca foi feito tal como se havia acordado à Corte de Barcelona em 1228, ou seja, em partes proporcionais segundo o esforço militar dos participantes. Assim, portanto, o rei recebeu mais ou menos a metade da Cidade de Maiorca, enquanto que o conde de Rossilhão, o conde de Empúries, o visconde de Berna e o bispo de Barcelona repartiram entre si a outra metade. O resto da ilha, conhecida depois com a parte forânea, também foi dividida em duas partes, uma para o rei e a outra para os magnatas. O rei distribuiu uma parte do que lhe pertencia entre templários e hospitalários, diversas instituições eclesiásticas, alguns nobres catalães, o infante Pedro de Portugal, as cidades que tinham contribuído com a empresa e os povoadores que tinham acorrido para se estabelecerem na ilha. Também os magnatas distribuíram uma parte das terras e das casas recebidas entre a sua gente. Os povoadores foram majoritariamente catalães, mas ali também figuravam grupos importantes de occitanos, italianos e gente de procedências diversas em menor proporção.

Dos muçulmanos que povoavam a ilha antes da conquista, uma parte foi reduzida à servidão, enquanto a outra parte permaneceu em liberdade, sem formarem comunidades reconhecidas, como as que tinham os sarracenos de outros territórios da Coroa. Puderam conservar uma parte dos seus bens, puderam praticar a sua religião e em troca tiveram de pagar um imposto ou capitação anual. Com o passar do tempo, converteram-se ao cristianismo e acabaram diluídos dentro da população cristã.

As ilhas foram incorporadas à Coroa catalano-aragonesa como um reino a mais. O regime jurídico foi determinado pela Carta de Franquia, que decretou a vigência dos Costumes de Barcelona para determinadas questões.

A conquista de Valência

Já vimos que as primeiras intenções expansionistas de Jaume I tiveram como objetivo Valência e que tinham fracassado. O ano 1229 teria sido uma boa ocasião para atacar Valência, aproveitando as discórdias internas que ali havia. Neste ano, o governador de Valência, Abu Said, não pôde dominar uma revolta de Zayyan Ibn Mardanis e teve de se refugiar em Sogorb, onde obteve a proteção de Jaume I, por meio de um tratado assinado na Catalunha no dia 20 de abril de 1229. Mas a expedição a Maiorca já estava programada com a ajuda dos catalães e os planos não podiam mudar. Durante um tempo, os nobres aragoneses da fronteira tiveram via livre para organizar ofensivas locais contra o território islâmico. Quando o rei se deu conta de que algumas destas ofensivas, como a de Blasco de Aragão em 1232, tiveram êxito em locais tão importantes como Ares e, sobretudo, Morella, procurou recuperar o protagonismo que lhe pertencia na direção do projeto da conquista de Valência.

A conquista foi planejada em uma reunião do rei com Blasco de Aragão e o mestre da Ordem do Hospital, Hug de Forcalquer, celebrada no princípio do ano de 1233, em Alcañiz, e começou naquele mesmo ano. Na primeira etapa, entre 1233 e 1235, foram conquistadas as principais localidades das comarcas setentrionais de Valência: Burriana, Peníscola, Castelló, Borriol, etc., até deixar de lado a zona montanhosa da serra de Eslida.

Para enfrentar a segunda etapa da conquista de Valência, Jaume I conseguiu a ajuda das cortes da Catalunha e de Aragão, reunidas conjuntamente em Monzón, em 1236. Participaram na empresa, que gozou da consideração de cruzada, não somente a nobreza, como na primeira etapa, mas também a igreja e as cidades catalãs e aragonesas. O objetivo desta segunda etapa da conquista foi a cidade de Valência e toda a planície ao redor da capital até o rio Xúquer: esta fase da conquista se estendeu entre os anos de 1237 e 1238. Os feitos de armas mais assinalados foram a batalha de el Puig, no dia 20 de agosto de 1237, e a derrota da esquadra do rei de Túnis, que fora auxiliar os sarracenos de Valência. A cidade de Valência se rendeu com capitulação e o rei entrou ali no dia 9 de outubro de 1238.

Finalmente, entre 1239 e 1245, foi conquistado o resto de Valência, desde o Xúquer até Biar, que era o limite estabelecido com Castela para a futura conquista catalã no Tratado de Tudellén (1151) e no Tratado de Cazola (1179), limite que foi confirmado novamente no Tratado de Almizra (1245) depois que o infante Afonso de Castela, o futuro Afonso X o Sábio tentou apoderar-se de Xàtiva, que era da conquista catalã, transgredindo o tratado e pondo em perigo a paz entre os dois reinos. Os territórios meridionais de Alacant (Alicante) foram adquiridos mais tarde, no desenrolar de uma guerra com Castela entre 1296 e 1304, no reino de Jaume II.

Depois da conquista, os sarracenos que tinham posto resistência armada aos conquistadores foram expulsos do país e tiveram de emigrar para o Al-Andalus ou outras terras islâmicas. Os que se renderam ao rei obtiveram, em troca, o direito a ficar com as suas terras. Uma grande parte da população autóctone, de religião islâmica, permaneceu, então, em Valência, em virtude das capitulações pactuadas com Jaume I. Estas capitulações tinham facilitado muito a conquista, que de outra forma não poderia durar em tão pouco tempo, entre 1233 e 1245. Mas a permanência da população sarracena resultou muito perigosa para a segurança de um território fronteiriço com outras terras ainda dominadas pelo islã e que contavam, no momento, com pouca população cristã.

Diferente do que havia acontecido em Maiorca, esta população viu garantido o direito de manter uma organização municipal e judicial próprias, além do direito de praticar a sua religião, o direito de emigrar, etc. Além de razões de ordem militar e de política interna, também havia influenciado na decisão de deixar ficar estas populações um outro fator: a impossibilidade de substituí-los por outros cristãos e a necessidade, portanto, de não deixar as terras improdutivas.

A população cristã que se instalou na região era escassa em um primeiro momento, até que assegurou o domínio do reino, uma vez que se situava nas cidades e nos enclaves de maior importância estratégica. No ano de 1270, vinte e cinco anos depois da conquista, havia em todo o reino de Valência, segundo o rei, não mais que 30.000 cristãos, quando afirmava que não bastavam menos que 100.000 para lhe garantir a segurança. Calcula-se que os sarracenos eram uns 200.000.

As novas conquistas formaram um reino, o de Valência, separado dos estados matrizes, Catalunha e Aragão. O rei evitou assim que as terras conquistadas passassem a aumentar Aragão, um estado com uma nobreza agressiva muito difícil de governar. Por outro lado, a colaboração catalã a partir da segunda etapa da conquista não permitia atribuí-la somente a Aragão e também não seria justo, porque Maiorca, conquistada com o esforço dos catalães quase exclusivamente, também havia recebido uma estrutura de reino diferenciado da Catalunha. O rei tentou aplicar-lhe uma estrutura jurisdicional única, mas isso se revelou uma operação muito mais difícil porque muitas cartas de povoação foram concedidas ao foro de Aragão pelos nobres aragoneses, especialmente na primeira etapa da conquista.

Os primeiros tempos do novo reino cristão foram difíceis por causa das revoltas da população muçulmana submetida. Houve uma primeira revolta, nos fins de 1245 ou começos de 1246, na comarca de Pego, que depois se estendeu às outras comarcas e foi comandada por um nobre sarraceno, Al-Azraq, entre 1247 e 1249. Em 1251, a revolta se reavivou e novamente foi chefiada por Al-Azraq. Foi vencida em 1257; Al-Azraq exilou-se no ano seguinte e com ele muitos dos outros rebeldes. Mas os que permaneceram foram suficientes, ainda, para se levantarem novamente em 1275, como uma reação aos maus-tratos que sofriam pelos almograves cristãos, reunidos para irem lutar contra os benimerins que tinham invadido a Península. A insurreição, encorajada pela esperança de receber ajuda dos benimerins, adquiriu grandes proporções e não foi sufocada até o final de 1277, quando o reinado de Pedro o Grande já havia iniciado; em seguida foram expulsos um grande número de sarracenos valencianos.

O segundo matrimônio do rei e as intenções de dividir a herança

No meio da guerra para conquistar Valência, Jaume I tornou-se a casar, no final de 1235, com uma princesa de procedência distante, Violante da Hungria, da qual teve seis filhas. O filho primogênito de Jaume I era Afonso, que foi legitimado para que os seus direitos não fossem lesionados devido à dissolução do matrimônio com Eleonor de Castela, mas a sua herança começou a ser discutida quando nasceram os filhos do segundo matrimônio. Para garantir a herança a estes filhos, o rei outorgou a Afonso a sucessão somente no reino de Aragão, e o fez jurar nesse reino no ano de 1243. O infante não se conformou e finalmente, no ano de 1253, o rei lhe atribuiu também o reino de Valência. Entretanto, morreu antes do pai, no ano de 1261, sem deixar descendência do seu matrimônio com Constança de Montcada, de forma que a sua herança pôde ser atribuída aos outros filhos de Jaume I, Pedro e Jaume. Assim, então, no ano de 1262, Jaume I fez um novo repartimento da sua herança: os reinos de Aragão, Valência e Catalunha, desde o Cinca até perto de Creus para o seu filho Pedro, enquanto que Jaume recebeu o reino de Maiorca, o Rossilhão, a Cerdanya (incluindo o vale de Ribes e uma parte do alto Berguedà), o Conflent e o Vallespir, além da cidade de Montpellier.

A conquista de Múrcia

No ano de 1264 produziu-se uma grande revolta simultânea dos sarracenos submetidos em Castela, na Andaluzia e em Múrcia, coordenada pelo rei de Granada, que atacou ao mesmo tempo as fronteiras castelhanas. Afonso o Sábio encontrava-se desprevenido e, diante da impossibilidade de atender o fronte andaluz e o fronte murciano, pediu ao seu sogro Jaume I que lhe ajudasse a reconquistar Múrcia. Os nobres aragoneses eram partidários de oferecer uma ajuda condicionada em troca da entrega dos castelos fronteiriços que Jaume I reclamava como os seus, mas o rei decidiu ajudar o seu genro sem nenhuma contrapartida, e por isso somente pode contar com os nobres catalães, apesar de também estarem reticentes em oferecer uma ajuda tão altruísta. Jaume I afirmou que a revolta de Múrcia era um perigo para o País Valenciano e que mais valia defender-se em terras de outro que na própria terra. Enquanto Jaume I reunia o seu exército, o infante Pedro realizou duas incursões contra os rebeldes murcianos. A campanha do rei começou em novembro de 1265 e acabou em abril de 1266. Conseguiu a submissão do reino em tão pouco tempo, sem travar grandes batalhas, por razão da força de dissuasão do seu exército, a sua prudência e habilidade política e a fama de homem justo que gozava entre os sarracenos. Também ajudou a impossibilidade em que se encontrava o rei de Granada de enviar reforços aos mouros murcianos revoltados.

Jaume I, além disso, repartiu casas e terras entre a gente do seu exército, de forma que o reino de Múrcia retornou ao seu genro pacificado e repovoado com catalães. Como dissemos, os seus nobres não aprovaram o gesto altruísta do rei, feito a custa de esforço financeiro e militar dos seus súditos; tão pouco os seus sucessores consideraram esta política justa e mais adiante reclamaram, repetidamente, o reino de Múrcia.

A política internacional

As relações comerciais com os países do Magrebe eram intensas desde o século XII, mas viram-se afetadas pela expansão catalã. A conquista de Maiorca e do País Valenciano provocaram a hostilidade de Túnis e geraram um estado de guerra em certos momentos e incidentes de curso. Em 1240 e em 1246 as embaixadas de Jaume I conseguiram restabelecer as boas relações: de uma parte asseguraram os intercâmbios comerciais e criaram ou consolidaram consulados e alfândegas de catalães no Magrebe; de outra, foi regulada a presença de milícias catalano-aragonesas ao serviço dos sultões magrebinos. A amizade catalano-tunisiana manteve-se em todo o período em que Luís IX da França levou a cabo uma cruzada contra Túnis. No outro extremo do Magrebe, em Ceuta, Jaume I aliou-se primeiro com o senhor da cidade e depois com o sultão marínida, ao qual ajudou a conquistá-la, o que depois teve conseqüências negativas.

As relações comerciais e políticas com as cidades marítimas italianas também eram antigas, mas a conquista de Maiorca obrigou a resolver novas questões. Genoveses e pisanos freqüentavam a ilha na época islâmica e seguramente tinham ali alfândegas. Era preciso, então, estabelecer as condições para a sua presença no reino sob o domínio catalão. Assim, então, no ano de 1230, foram assinados um tratado e dois convênios complementares entre Jaume I e a Comuna de Gênova a fim de regular as relações mútuas, comerciais e marítimas; a liberdade de comércio para os súditos de uma e outra parte contratantes, a isenção de alguns impostos, a contenção da pirataria e a indenização destes ataques. Jaume I comprometeu-se também neste convênio em conceder a Gênova um terreno para construção de casas, uma igreja e um terreno na cidade de Maiorca e terras na ilha que bastassem para manter cinco capelães. No ano de 1233 estes convênios completaram-se com o acordo de criação de consulados de genoveses nas cidades marítimas das suas terras e de consulados de catalães em Gênova. Era a extensão em terras cristãs de uma instituição nascida para dar suporte aos mercadores em território islâmico principalmente. Durante o reinado de Jaume I as relações entre genoveses e catalães foram excelentes apesar de não terem faltado incidentes nas áreas de conflito.

Também os pisanos se viram favorecidos, como os genoveses, com algumas concessões comerciais na ilha. O tratado assinado em 8 de agosto de 1233 confirmando o de 1114, feito em ocasião da expedição conjunta às mesmas ilhas, concedia aos pisanos uma alfândega ou um local para construí-la, um forno e uma igreja com terras suficientes para que pudessem viver quatro capelães. Este tratado foi confirmado por Jaume I em 1263.

As relações com os estados peninsulares foram muito mais complicadas. Houve épocas de fortes tensões com Castela, apesar das ligações familiares estabelecidas com o casamento do primogênito de Castela, Afonso X, e uma das filhas de Jaume I, Violante, no ano 1243 e o do infante Miguel com uma outra filha, Constança, acordado em 1256. As primeiras tensões surgiram por causa das ambições castelhanas sobre Navarra, que chocavam com as de Aragão, que aspirava a uma nova união com este reino. No ano de 1231, Jaume I assinou com o rei de Navarra um acordo de adoção e herança mútua para prevenir as ameaças de Castela contra Navarra, mas não teve conseqüências porque tão logo se dissipou a ameaça castelhana, os navarros escolheram como rei, em 1234, não mais Jaume I, mas o sobrinho do monarca defunto, Teobaldo da Champanha. À morte deste rei, em 1253, reproduziu as tensões e as intenções de invasão castelhana, feito que esteve a ponto de fazer explodir a guerra com a Coroa catalano-aragonesa. O Tratado de Soria, de 1256, voltou a restabelecer as boas relações com Castela. Uma nova crise sucessória em Navarra, em 1274, foi aproveitada por Jaume I para intervir militarmente neste reino onde impôs o infante Pedro como um regente e prometeu uma filha do monarca defunto com o filho grande do infante Pedro, com o compromisso de preservar a independência de Navarra. O infante Pedro foi aceito como um rei nas Cortes de Olite em 1274, mas as revoltas dos nobres em Aragão e em Catalunha impediram que este projeto pudesse se consolidar. Finalmente, a herdeira de Navarra casou-se com o rei francês Filipe o Belo em 1284, e assim acabaram as aspirações catalano-aragonesas.

Outros motivos de tensão com Castela produziram-se pela falta de respeito dos castelhanos aos pactos sobre a repartição de territórios a conquistar e pelo suporte dado à revolta de Al-Azraq em Valência.

Com relação ao ocorrido na Occitânia, cabe dizer que os direitos da dinastia barcelonesa não foram abandonados imediatamente depois da derrota de Pedro o Católico em Muret em 1213. O conde Sancho, como regente da Coroa catalano-aragonesa durante a menoridade de Jaume I, tentou defendê-los e também o próprio rei Jaume I o fez posteriormente, mas diante da pressão tão forte exercida pelo rei da França, que tinha conseguido direitos à sucessão tanto de Tolosa quanto da Provença, o conde Sancho renunciou finalmente aos seus direitos sobre as terras occitanas no Tratado de Corbeil, em 1258. Luís IX da França, neste mesmo tratado, renunciava aos esquecidos direitos sobre a Catalunha, como descendente de Carlos Magno. Também foi contratado o matrimônio entre a infanta Elisabeth, filha do Conquistador, e o filho e herdeiro do rei da França, Filipe.

O casamento do infante Pedro com Constança de Hohenstaufen, filha do rei Manfredo da Sicília teve uma importância decisiva para o futuro. Esta aliança com a família imperial alemã, através do ramo siciliano, arrastou os catalães próximos um enfrentamento com a Santa Sé, com a França e com os de Anjou, ramo menor da dinastia real francesa, os quais se materializaram no reinado de Pedro o Grande. Esta aliança foi, sem dúvida, uma aposta arriscada.

Cabe mencionar também a intenção de Jaume I de levar a cabo uma cruzada à Terra Santa, no ano de 1260, que acabou sendo frustrada, como também o foi a nova tentativa de 1269: um temporal que a esquadra encontrou logo na partida a desorganizou e fez com que o rei renunciasse ao projeto, se bem dois dos seus filhos ilegítimos, Fernando Sancho de Castro e Pedro Fernando, com outros nobres acabaram chegando às terras da Palestina.

Os últimos anos do reinado e a semelhança do monarca

Os últimos anos do longo reinado de Jaume I viram-se amargados pelo ódio surgido entre o filho ilegítimo Fernando Sancho de Castro, muito estimado pelo rei, e o primogênito, o infante Pedro, que ordenou um atentado contra o seu meio-irmão em 1272. Devido a este fato, o infante chegou a ser desapossado do cargo de procurador dos reinos. Mas a participação de Fernando Sancho na grande revolta de nobres de 1274, que se estendeu por Aragão e Catalunha, obrigou o rei a fechar os olhos quando finalmente Fernando Sancho foi assassinado pelos homens do infante Pedro em 1275. A revolta dos sarracenos valencianos de 1275 acabou de entristecer os últimos dias do Conquistador, que morreu em 27 de junho de 1276 em Valência, com sessenta e oito anos.

Segundo a descrição feita pelo cronista Desclot, Jaume I era um homem muito alto e forte, loiro e de bela aparência. Valente e bom guerreiro, foi também generoso e misericordioso e muito apaixonado; além de Aurembiaix de Urgell, são conhecidas as seguintes amantes: Blanca de Antillón, Berenguera Fernández, Guillema de Cabrera, Teresa Gil de Vidaure, considerada a terceira esposa, Berenguera Alfonso e Sibil-la de Saga, com muitas das quais teve descendência.

O balanço do seu reinado é muito positivo. Depois de conquistá-los aos sarracenos, incorporou dois novos reinos à sua coroa, o que fez crescer decisivamente as terras de língua catalã. Mas não foi somente um homem de guerra, foi também um organizador das instituições de governo: o conselho real, o governo territorial e a administração da justiça nos diferentes níveis, o governo municipal às cidades e vilas importantes, as Cortes, etc. Também se preocupou com o desenvolvimento do comércio e da marinha; criou os Consulados do Ultramar e a instituição (a universidade dos homens justos de Ribera) que deu origem ao Consulado do Mar e as suas famosas ordenações. Foi, então, um reinado transcendental em todos os aspectos, obscurecido somente pela divisão dos reinos entre os seus filhos, equívoco grave que os enfraquecia e que deu lugar ao seu enfrentamento no futuro.

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[1] Texto traduzido do catalão por Luciano José Vianna, aluno do Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações Políticas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Orientador Prof. Dr. Ricardo da Costa (www.ricardocosta.com).

[2] Tradução de Luciano José Vianna e Ricardo da Costa (Ufes) com base na edição Llibre dels Fets del Rei En Jaume (a cura de Jordi Bruguera), Barcelona, Editorial Barcino, 1991, confrontada com Jaime I. Libro de los hechos (introd., trad. y notas de Julia Butiñá Jiménez), Madrid, Gredos, 2003, de quem aproveitamos as notas explicativas (além de acrescentarmos mais notas, direcionadas ao público brasileiro).

   
Túmulo de Jaume I em Poblet
 
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