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Ramon Berenguer IV, [Raimundo Berengário IV] o Santo (1131-1162)[1]

Conde de Barcelona, Girona, Osona, Besalú e Cerdanya (1131-1162), e príncipe governante de Aragão e conde de Ribagorça (1137-11620), filho de Ramon Berenguer III e Dulce de Provença.

O fato mais importante do seu governo foi a formação da Coroa de Aragão ou a união dinástica do reino de Aragão com os condados da casa de Barcelona. Isso aconteceu em 1137, três anos depois da morte sem filhos de Afonso I de Aragão (1134), que havia deixado o reino em testamento às ordens militares do Templo, do Hospital e do Santo Sepulcro, e que com esta disposição contrária à tradição havia provocado uma situação de crise política. Vilas, nobres e eclesiásticos resistiram a acatar o testamento, mas o problema se apresentou com muito rigor quando os navarros, unidos a Aragão desde 1076, aproveitaram as circunstâncias para se separarem e elegerem um rei próprio na pessoa do senhor de Tudela, Garcia VI de Pamplona (1134-1150). Tementes por se verem governados por um soberano navarro, os aragoneses elegeram como rei o irmão do defunto, o bispo eleito de Roda-Barbastro, conhecido com o nome de Ramiro II o Monge (1134-1137). Entretanto, o rei de Castela, Afonso VII, enteado do Batalhador, reivindicou a herança aragonesa, invadiu Saragoça e, diante da impotência de Ramiro, tomou posse do território aragonês do Vale do Ebro (dezembro de 1134).

A sucessão não se apresentava muito difícil e o Papa interveio em prol do testamento do Batalhador, isto é, a favor das ordens militares e contra a eleição de Ramiro II. Sentindo-se reprovado pelo papa e ameaçado por Castela, Ramiro se aproximou de Garcia VI de Pamplona, com quem assinou um pacto de aliança (Vadoluengo, dezembro de 1134). Porém, tal pacto foi traído pelo navarro, que protegeu Afonso VII (Nájera, maio de 1135). Semelhantes fracassos na política exterior causaram descontentamento e talvez a conspiração de um setor nobiliário para destronar Ramiro (setembro-outubro de 1135), o qual, se dermos crédito à legenda da "campanha de Huesca", desfez o movimento com grande firmeza. Nesse momento, em fins de 1135, Ramiro casou-se com Inês de Poitiers com a intenção de engendrar um herdeiro e estabilizar assim o futuro da coroa. Da união nasceu a infanta Petronila, que imediatamente serviu de base para negociar com Afonso VII: o castelhano restituiria Saragoça ao rei monge, em troca da conservação das praças fortes à direita do Ebro, da obtenção da vassalagem do aragonês pela cidade devolvida e do recebimento da infanta Petronila para educá-la em Castela e casá-la com o herdeiro do reino, o príncipe Sancho (Alagó, agosto de 1136).

Talvez os nobres de Aragão, tementes à hegemonia castelhana, se opusessem a isso. O caso é que, finalmente, o rei de Aragão e os seus colaboradores (convencidos talvez pelos magnatas e hierarcas catalães como o arcebispo de Tarragona, Arnaldo Miro do Pallars Jussà, Hermenegildo VI [Ermengol VI] de Urgelll e outros, que tinham participado em Aragão na conquista do vale do Ebro, nos tempos do Batalhador) se inclinaram para prometer em esponsais a infanta Petronila ao conde de Barcelona, e firmaram o pacto em 11 de agosto de 1137, em Barbastro, onde o rei de Aragão se dirigiu a Ramon Berenguer IV com estas palavras: "Eu Ramiro, pela graça de Deus rei de Aragão, dou a tu Ramon, conde de Barcelona e marquês, a minha filha como mulher, juntamente com todo o reino de Aragão, integralmente, tal como o meu pai Sancho, rei, e meus irmãos, Pedro e Afonso, o tiveram e retiveram, respeitando-lhe os direitos e os costumes. Eu encomendo a tu todos os homens do mencionado reino com homenagem e juramento de fidelidade". Dezesseis dias depois, Ramiro anulava qualquer doação ou concessão feita por ele desde o dia 11 sem o consentimento de Ramon Berenguer e para o futuro se comprometia a não atuar sem o seu conselho e o seu consentimento. Finalmente, em 13 de novembro de 1137, o rei monge ratificou a sua posição e acrescentou que todos os seus súditos tratassem o conde de Barcelona como se fosse ele mesmo: tamquam regi. Depois disso, Ramiro retirou-se para São Pedro no vale do Huesca e, mesmo que até a sua morte (1157) tenha continuado a utilizar o título real, de fato abandonou a totalidade das tarefas do governo às mãos do seu futuro genro, que, respeitosamente com a legalidade, não era rei titular, mas sim princeps de Aragão.

O acordo de Barbastro prosseguiu, mas, das negociações com as ordens do Hospital (1140), do Santo Sepulcro (1141) e do Templo (1143), o conde-rei obteve a renúncia aos direitos sucessórios de Aragão, que estavam em conformidade com o testamento do rei Afonso, em troca de direitos, possessões e prerrogativas dentro da fronteiras de Aragão e parte das futuras conquistas. De forma semelhante, o conde-príncipe negociou com Afonso VII de Leão e Castela para recuperar os territórios do vale do Ebro, que os castelhanos tinham ocupado aproveitando-se da morte de Afonso I o Batalhador, e ao mesmo tempo conseguir ajuda para reintegrar o reino de Navarra, o qual havia se tornado independente nas mesmas circunstâncias. Em Carrión de los Condes (1140), efetivamente acordou a retirada das tropas castelhanas do Ebro, isto é, da parte ocidental do Regnum Caesaraugustanum, que estava anexado a Castela (com Tarazona, Calatayud e Daroca, esta ainda por repovoar), em troca da vassalagem do conde-príncipe por este Regnum, e pactuou uma aliança ofensiva contra Navarra que não teve conseqüências.

Mais que os seus antepassados, Ramon Berenguer IV impulsionou e dirigiu a expansão em luta contra o islã. Pela proteção aragonesa, a nobreza, as ordens militares e a cavalaria popular das vilas e das cidades da fronteira lutaram para recuperar as possessões perdidas nas mãos dos almorávidas depois da derrota do Batalhador em Fraga (1134). Naqueles anos ocuparam ou repovoaram Alcolea de Cinca, Chalamera, Sariñena (1141), Daroca (1142) e Ontiñena (1147); Albalate foi incorporada à jurisdição de Saragoça (1149), e Ramon Berenguer IV concedeu foros às populações de Alcañiz e Monforte de Moyuela (1157).

Na área de expansão dos feudais catalães o objetivo primeiro foi a conquista de Tortosa. A expedição marítima e terrestre iniciou-se em 29 de junho de 1148, quando 426 barcos, genoveses e catalães, ancorados no porto e na praia de Barcelona, zarparam rumo ao delta do Ebro, levando guerreiros catalães, normandos, ingleses, occitanos e aragoneses e cavaleiros do Templo e do Hospital. Ramon Berenguer IV tinha o comando superior dos expedicionários e contou com a colaboração de Guilherme Raimundo de Montcada, Guilherme de Montpellier, Bertrand de Pisa, Bertrand de Tolosa, Hermenegildo VI de Urgelll, o visconde de Narbona e o bispo de Barcelona, Guilherme de Torroja.

Para impedir que Tortosa recebesse ajuda dos sarracenos de Mequinenza, de Lleida e de Miravet, os condes de Barcelona e de Urgelll conquistaram o castelo de Ascó, fato que impediu as comunicações de Tortosa com as áreas de Móra d'Ebre, Flix e o Segrià. Aliados desta maneira, os habitantes de Tortosa capitularam em 30 de dezembro de 1148. No futuro, a capital do Ebro catalão seria um centro agrícola e comercial de primeira ordem e uma base militar para futuras expedições para a terra valenciana.

Como disse Soldevila, que pensa na conquista da Catalunha Nova como um projeto global, "conquistada Tortosa, era preciso endereçar o esforço conquistador sobre Lleida, sem dar tempo aos sarracenos de se refazerem-se". E assim foi feito. De fato, já no ano 1147 o conde Hermenegildo VI de Urgelll havia atravessado o Noguera para empreender, de acordo com Ramon Berenguer IV, a conquista do Segrià e da cidade de Lleida. No biênio 1147-1148 os de Urgelll ocuparam Albesa, Alfarràs, Andani e a Portella no Noguera, Almenar, Soses, Aitona, Escart, Massalcoreig e Vilanova del Segrià na comarca do Segrià. Dessa forma, o conde de Urgelll facilitou a passagem do conde de Barcelona e dos de Tortosa ao Segrià, ao mesmo tempo em que cercava Lleida. Também naqueles anos os sarracenos perderam Almacelles, a Saida, Raimat, Montagut, Alpicat, Corbins, Guardeny e Segrià; e a serra da Cerdera, que separa o Segrià da baixa Llitera e do baixo Cinca.

Em 25 de maio de 1148, antes da conquista de Lleida, os condes de Urgell e de Barcelona assinaram um convênio repartindo o território a conquistar. Hermenegildo IV recebia em feudo do barcelonês a cidade de Lleida e um terço dos territórios daquele município. Em virtude dos pactos estabelecidos anteriormente entre Ramon Berenguer e as ordens militares, os templários e os hospitalários ficariam com um quinto das terras ganhadas dos sarracenos. O sítio de Lleida, que Ramon Berenguer dirigiu do seu acampamento, instalado em Guardeny, iniciou-se em março de 1149 e ali participaram quase somente guerreiros catalães, e de forma destacada Hermenegildo VI de Urgell, Guillem Ramon de Montcada, o conde Arnaldo Miro de Pallars Jussà, o conde Pôncio Hugo de Empúries, o visconde Hugo Folco de Cardona, Guilhem de Cervera, Berenguer d'Erill, Ramon de Pujalt, Gombau de Besora, Berenguer d'Espens, Ponç de Ribelles, Berenguer de Boixadors, Guerau de Jorba e Berenguer d'Anglesola. Simultaneamente, os cavaleiros aragoneses Artal de Alagón, Fortún Aznárez de Saragoça, Galindo Ximénez de Belchite, Pelegrín de Alquézar, Gómez, senhor de Jaca, García Ortiz de Saragoça e o visconde de Gavaudan e Bearn, senhor de Huesca, receberam a incumbência de sitiar, no mesmo momento, o baixo Cinca, Fraga e Mequinenza com o intuito de que os sarracenos destas cidades não pudessem ajudar Lleida. Esta complexa operação militar culminou com um êxito completo pelos atacantes feudais: Lleida e Fraga capitularam no mesmo dia, em 24 de outubro de 1149, e na mesma data ou muito pouco depois, Mequinenza.

Para Mequinenza foi doado o foro de Saragoça, e Fraga, capital do baixo Cinca, recebeu o foro de Huesca, desde que estas duas povoações fossem repovoadas com gente de fala catalã. Como disse Soldevila, isto, do ponto de vista político, em uma época em que o direito tinha uma importância capital, foi decisivo. Ainda que em um futuro imediato parecesse que a fronteira entre Aragão e Catalunha convinha ser fixada no Cinca, de fato, Jaime I declarou que a Catalunha se estendia do Cinca aos Salses, as Cortes aragonesas do ano 1300 declararam que Ribagorça, Sobrarbe e a comarca de Llitera até ao clamor de Almacelles pertenciam ao reino de Aragão, e Jaime II ratificou isso.

Uma evolução diferente experimentou a cidade de Lleida. Povoada, também, pela gente de Barcelona, Urgell, Pallars e Ribagorça, Lleida se integraria seguindo o domínio lingüístico do catalão e tempos adiante seria a capital da Catalunha ocidental e o centro de uma rica comarca agrícola e de irradiação catalã dentro de Aragão. Como observou Josep Maria Font i Rius, também Ramon Berenguer IV teve especial interesse em dar a Tortosa e a Lleida uma fisionomia jurídica semelhante à de Barcelona, caracterizada por um regime de liberdade pública e civil garantida pelas cartas de povoação e franquias. E não é por acaso que o direito local de Lleida, tendo começado a formar-se em 1150, tinha como uma das suas bases os Usatges de Barcelona. Assim, não de uma vez, mas bem breve, e pela força do povoamento, Lleida oscilou na direção da Catalunha, que, nas palavras do rei Pedro o Católico, até 1200 se estendia de Salses a Lleida: "Haec est pax quam dominus Petrus... constituit per totam Cataloniam, videlicet a Salsis usque ad Illerdam". Mas a personalidade dos naturais de Lleida e de Tortosa não seria absorvida pelos barceloneses, porque ambas as comunidades receberam cartas de povoação privativas (Tortosa em 1148 e Lleida em 1150) e não foram incluídas dentro dos limites do condado de Barcelona, mas se converteram no centro de duas entidades territoriais novas: o marquesado de Lleida e o marquesado de Tortosa. No caso de Lleida há que se destacar que pela sua integração à Catalunha, a população, a língua e o direito predominaram sobre outros aspectos importantes, como o eclesiástico e o monetário, que durante os primeiros tempos podiam inclinar Lleida para Aragão. Com efeito, o bispado de Lleida foi criado para se transferir os de Roda e Barbastro, e o bispo de Lleida aparece freqüentemente mencionado nos documentos aragoneses sob a proteção dos prelados e dos barões do reino de Aragão. Durante a época baixo-medieval, Lleida, com Urgell, Pallars, Tortosa e o Vale de Aran, esteve incluída uma área de circulação da moeda jaquesa (moeda cunhada pelos reis de Aragão, primeiro em Jaca e depois em outras localidades), e quando os municípios aragoneses foram convocados para tratar de questões relacionadas com a moeda jaquesa, também era convocado o município de Lleida. No entanto, em breve se impôs a integração de Lleida à Catalunha e a distinção dos locais na Catalunha onde corria a moeda jaquesa e os locais onde corria a barcelonesa.

Imediatamente depois da queda de Lleida se ocupou o território entre Lleida e Tortosa. Entre o ano de 1149 e 1151, uma parte do exército de Ramon Berenguer IV, comandado por Guillem e Hug de Cervera, Gombau de Besora, Guillem e Arbert de Castellvell, Arnau d'Artesa e Pere de Montoliu, completou a conquista do Segrià (Alfés, Aspa, Maials e Torres de Segre) e ocupou a maior parte das Garrigues (Juneda, les Borges Blanques, Castelldàsens, Cogul, Albagès, Cervià, Vilosell, Juncosa e Vinaixa). Neste momento Ramon Berenguer IV já havia solicitado a ordem de Cister, que em 1153 se estabeleceu em Poblet, no meio da Conca de Barberà. Partindo das Garrigues e atravessando a serra da Llena em direção ao sudeste, até em 1151 Albert de Castellvell, Bertran de Castellet, Ponç de Cervera, Ramon de Cervera e os seus homens conquistaram o Priorat, que neste momento pertencia ao território do uale de Siurana: Arbert de Castellvell foi nomeado castelão de Falset, Ulldemolins, Monera, Cabassers, Poboleda e Porrera, do Priorat, e também castelão de Vilanova de Prades, na Conca de Barberà. Paralelamente ocuparam-se as principais localidades da Ribera d'Ebre, comarca que em boa parte foi doada aos templários, com exceções importantes, como Móra d'Ebre, que em 1153 já estava conquistada e cedida a Guillem de Castellvell; esta mais tarde passaria aos Entença. Tampouco Flix não foi dos Templários, mas sim do genovês Bonifacio della Volta, que dirigiu a conquista depois da capitulação de Tortosa; Ramon Berenguer IV deu-lhe formalmente o castelo de Flix em 4 de outubro de 1154. O castelo de Miravet, sobre o Ebro, foi sitiado pelos templários em princípios de 1153. Ramon Berenguer IV o encarregou à custódia do mestre do Templo, Pedro de Rovera.

Em 29 de abril de 1153 iniciou-se o cerco de Siurana de Prades, localidade estratégica do Priorat e último reduto sarraceno do território que hoje dá nome à Catalunha. Os conquistadores tinham vindo das Garrigues através do Montsant, da Ribera d'Ebre e da Conca de Barberà (os Claramunt e os Queralt), partindo de Espluga de Francolí. Ocupado na altura de Mussara e de Febró, o bastião de Siruana caiu depois de uma obstinada resistência; a praça foi dada ao cavaleiro Bertran de Castellet, que era senhor de Reus, vila do Baix Camp, que ele fez repovoar em 1154. Muitas comunidades muçulmanas das margens do Ebro, que tinham capitulado, puderam permanecer no território, dedicando-se à agricultura e ao artesanato e conservando a personalidade civil e religiosa. Entretanto, tiveram que se submeter a senhores cristãos, que tinham se apropriado das suas terras, cobravam rendas e os exploravam pelo fato de continuarem vivendo ali.

Em meados do século XII completou-se a geografia eclesiástica catalã com a restauração das dioceses de Lleida e Tortosa. Em 1149 mudou para Lleida o bispo Guillem Pere, que desde 1143 regia a diocese de Roda e Barbastro, que assim se juntou com a de Lleida. Em Tortosa, conquistada em 1148, estabeleceu-se em 1151 o primeiro bispo consagrado pela nova sé, Gaufred (1151-1165), antigo abade de São Rufo de Avinhão.

A organização da província eclesiástica de Tarragona completou-se nos tempos do arcebispo Bernat de Tort (1146-1163), o qual por bulas papais de 1154 fixou os limites da arquidiocese e exerceu a sua autoridade metropolitana sobre as dioceses de Girona, Vic, Urgell, Barcelona, Lleida, Tortosa, Huesca, Saragoça, Pamplona, Tarazona e Calahorra. No entanto, surgiram problemas na atuação temporal dos bispos na cidade de Tarragona e nos seus arredores, derivados do pacto subscrito em 14 de março de 1129, o qual dizia que o arcebispo Oleguer havia encarregado ao cavaleiro normando Robert Bordet o repovoamento da área, lhe havia constituído como princeps da cidade e do seu território e lhe havia feito doação de diferentes direitos senhoriais, tudo reservado como um direito de vassalagem às igrejas e aos direitos ali inerentes. Respeitando o regime público, o mencionado pacto de 1129 havia previsto que Bordet e o arcebispo o exerceriam de forma conjunta, e que o cavaleiro se reconheceria como vassalo da Igreja pelo fato da mencionada posse. Oleguer e Robert Bordet atuaram de comum acordo na restauração da cidade e, com o consentimento do conde de Barcelona (nesse momento Ramon Berenguer III), o normando outorgou uma carta de franquia para atrair povoadores e concedeu feudos, castelos e fortalezas para organizar a defesa do território. No entanto, a proximidade dos sarracenos dificultava o povoamento. Mesmo que chegassem imigrantes da Occitânia e da Itália, o impulso decisivo para a colonização do território do Tarragonès e do Camp de Tarragona não se produziu até depois da conquista de Tortosa (1148). Nestas circunstâncias, o arcebispo Bernat de Tort, zeloso das suas prerrogativas, e seguramente em conivência com o conde Ramon Berenguer IV, redigiu um novo documento de doação-confirmação dos direitos que assinou juntamente com Robert Bordet em fevereiro de 1149. Esta escritura confirmava e acentuava a senhoria eminente do arcebispo sobre o território de Tarragona, aumentava a submissão de Robert Bordet ao arcebispo e limitava os direitos do normando. Este convênio que Bordet teve de aceitar à força supunha o estabelecimento de um regime de domínio entre a Igreja e o príncipe, com a pública carta libertatis, outorgada aos habitantes de Tarragona por ambas as autoridades em 3 de setembro de 1149.

Porém, em pouco tempo surgiram discórdias entre o arcebispo e Robert Bordet, o qual, em um julgamento celebrado na cúria condal de Barcelona, em 7 de agosto de 1151, acusou Bernat de Tort de ter lhe tomado por engano as faculdades judiciais sobre Tarragona. Porém, cabe pensar que isso foi uma manobra política levada entre o conde e o arcebispo para fortalecer a sua autoridade e privar de direitos feudais a família normanda (Robert e o seu filho Guillem). A melhor prova disso é que o tribunal sentenciou a favor do arcebispo, e que no mesmo mês de 1151 o arcebispo, considerando-se senhor único da cidade e os limites de Tarragona, entregou-a ao conde-rei Ramon Berenguer IV juntamente com o senioraticum sobre todos os homens em troca dos deveres habituais de vassalagem, ajuda e conselho (auxilium et consilium). Desta maneira, o conde de Barcelona passava a ocupar uma posição similar a que inicialmente tinha Robert Bordet: devia fidelidade ao arcebispo como um feudatário seu pela região de Tarragona e com ele teria de repartir direitos, rendas e jurisdições. Pouco depois, sob pressão do conde e do prelado, o normando e a sua família tiveram de fazer uma renúncia solene a dois terços de Tarragona e do seu território em proveito daqueles senhores. A partir desse momento, o domínio de Tarragona e dos seus arredores foi exercido por três titulares, o conde, o arcebispo e o príncipe Robert, que, como tal, outorgaram cartas aos novos povoadores. Porém, não parece que ali havia um bom entendimento entre o príncipe normando e os outros dois senhores. A morte de Robert, por volta de 1154, agravou ainda mais a situação, já que o seu filho Guillem e a sua mulher Agnes reclamaram com mais energia os seus direitos. A história acabaria em tragédia (assassinato do arcebispo Hug de Cervelló em 1171 e a fuga da família normanda) durante o reinado de Afonso o Casto.

A colaboração entre o poder condal e a Igreja, com o objetivo evidente de domesticar a nobreza, isto é, de a fazer entrar dentro da ordem feudal tutelada pelo conde-príncipe, materializou-se na utilização da paz e trégua. Tratava-se, com a ajuda da Igreja, de consolidar a autoridade condal e com isto construir o principado feudal catalão. Nesta direção, o arcebispo de Tarragona, Oleguer, e o conde de Barcelona, Ramon Berenguer IV, presidiram em um local desconhecido uma assembléia magna que concedeu privilégios aos cavaleiros do Templo, oferecendo-lhes a proteção da paz e trégua. É muito significativo que, entre outros membros da aristocracia, assistissem à reunião e assinassem o documento os bispos de Vic e de Girona, os condes de Empúries e Urgell, Ramon Folco II de Cardona, Guillem Ramon de Montcada, Ramon de Torroja, etc. Seguindo Gener Gonzalvo, diríamos que este texto ilustra o estado de equilíbrio de forças em que se encontrava a paz e a trégua em meados do século XII: o poder condal, não se encontrando muito fortalecido ainda para considerar a instituição da paz como um instrumento legal próprio, serviu-se do concurso da Igreja para os seus propósitos de assentamento dos templários. Ainda os concílios de Lleida em 1151 e 1173 mostram estas raízes eclesiásticas da paz, que justamente nesse momento, no ano de 1173, transformou-se em uma instituição da realeza.

A expansão territorial, à qual mais acima nos referimos, não foi obstáculo para a realização de ousadas expedições pelas terras de Múrcia (1144) e Valência (1146), e para a brilhante participação na tomada de Almería (1147) em proveito de Castela, e em cumprimento dos acordos de vassalagem adotados em Carrión pelo Regnum Caesaraugustanum. Semelhantes êxitos explicam a assinatura do tratado de Tudellén (1151), em virtude do qual Afonso VII e Ramon Berenguer IV, com intenção de renovar a aliança contrária a Navarra, vão pretender repartir o Al-Andalus: das futuras conquistas se reservavam à Coroa catalano-aragonesa as terras de Valência, Dénia e Múrcia, pelas quais o conde-príncipe e os seus sucessores teriam de restituir homenagem ao monarca castelhano. Este acordo de repartimento do Al-Andalus adquiriu mais sentido se pensarmos que por aquelas datas o líder muçulmano Muhammad ibn Abd Allah ibn Sad ibn Mardanis, que governava sobre Cuenca, Valência, Dénia, Xàtiva, Segura, Múrcia e Lorca, fez-se tributário de Afonso VII e de Ramon Berenguer IV, a quem satisfazia com um tributo anual de cem mil mitzqals de ouro. Graças à ajuda militar de catalães e castelhanos, Ibn Mardanis pode manter-se como líder destes territórios até perto da sua morte (1172), apesar das ofensivas dos almôadas, que passaram o Estreito em 1145.

A relação entre a Coroa de Aragão e Castela foi reformada no ano de 1156 quando se ratificou o tratado de Tudellén e se pactuou o futuro matrimônio de Afonso, filho de Ramon Berenguer IV, com Sancha de Castela, filha de Afonso VII. Mas a situação mudou no ano seguinte quando o reino castelhano se enfraqueceu por causa da morte do seu soberano e da separação de Leão e Castela. Imediatamente produziram-se desacordos entre Ramon Berenguer IV e o novo rei, Sancho III de Castela (1157-1158), a respeito de Saragoça, que terminaram com um compromisso em fevereiro de 1158. A morte prematura de Sancho III e a longa menoridade do seu sucessor Afonso VIII (1158-1214) tampouco não foram muito propícios à manutenção de umas boas relações entre Castela e a Coroa de Aragão.

A política de Ramon Berenguer IV também foi ativa na Occitânia: o testamento paterno lhe obrigava e os interesses familiares também. Recordemos que Ramon Berenguer III de Barcelona, I da Provença, havia deixado em testamento (1131) os condados catalães e os direitos sobre Carcassonne e Razès (mais nominais que efetivos) ao primogênito, Ramon Berenguer IV, e a Provença, Millau, Gavaudan e Calardez ao segundo filho, Berenguer Ramon. Era uma divisão atenuada pelo fato de que Ramon Berenguer IV, o primogênito, atuando com um líder da linhagem, teria de exercer uma espécie de tutela sobre o seu irmão. Berenguer Ramon, o conde provençal, viu muito breve a sua autoridade disputada pelo nobre provençal Raimon dels Baus (marido da sua tia Estefania, irmã da condessa Dulce), aliado do conde Afonso Jordão de Tolosa, e morreu lutando contra os genoveses, que queriam ampliar a sua presença nas cidades costeiras da Provença e por isso também haviam assinado um tratado com Tolosa (1144). Assim, Berenguer Ramon deixou o seu herdeiro, Ramon Berenguer, sob a tutela do tio barcelonês.

Naquelas circunstâncias, a distância de Barcelona facilitou a intervenção do imperador alemão Conrado III, que, desempoando velhos direitos, deu suporte a Raimon dels Baus, a quem cedeu a Provença em feudo do Império (1145). Isso tornou necessário o pronto traslado de Ramon Berenguer IV de Barcelona, II da Provença, às terras provençais (1147), onde recolheu a herança do seu irmão e conseguiu impor-se momentaneamente à nobreza. Depois, atarefado com a luta contra os muçulmanos na Península (sítio de Almería em 1147, e tomada de Tortosa em 1148 e de Lleida em 1149), Ramon Berenguer IV demorou a ocupar-se novamente da Provença, onde a ausência do conde estimulava as ambições da nobreza local, particularmente da casa de Baus. Somente em 1150 é que o conde de Barcelona e príncipe de Aragão se ocupou outra vez pessoalmente dos assuntos occitanos: nesse momento trasladou-se com um exército para a Provença, onde obteve a submissão da nobreza rebelde, particularmente de Raimon dels Baus, que morreu pouco depois; de retorno à Catalunha restabeleceu a sua senhoria sobre as honras dos Trencavel (com os condados de Carcassonne e Razès, o castelo de Laurac e a terra dos Lauragais).

A casa de Tolosa não aceitou a perda da influência no Languedoc e atacou em Trancavel (1153), feito que originou um conflito de dimensões mais importantes: uma coalizão formada por Ramon Berenguer IV de Barcelona, Henrique II da Inglaterra, duque da Aquitânia (que reivindicava direitos da sua esposa Eleonor sobre Tolosa), Ramon Trencavel de Carcassonne e Guilherme VII de Montpellier acometeram Ramon V de Tolosa, que foi socorrido pelo rei da França (1159-1160). Além disso, na Provença, restava por resolver o problema das relações com o imperador alemão (Frederico I Barba-roxa desde 1155), que podiam perturbar o futuro do domínio catalão, ameaçado ainda por novas revoltas nobiliárias, encabeçadas agora por Hugo II dels Baus. A fim de resolver ambas as questões, Ramon Berenguer IV (acompanhado do seu sobrinho Ramon Berenguer III de Provença) pactuou uma concórdia com Frederico I da Alemanha, pela qual receberia a investidura da Provença com um feudo do Império, juraria fidelidade ao imperador e este aceitaria examinar no seu tribunal a acusação de traditione et felonia contra Hugo II dels Baus, a qual Ramon Berenguer lhe apresentaria. Precisamente, elaborados já os documentos (estão no Liber Feudorum Maior), quando Ramon Berenguer IV se dispunha a fechar o pacto em uma entrevista com o imperador, morreu em Borgo San Dalmazio (1162).

Pelo seu testamento, Ramon Berenguer IV deixava ao primogênito, Ramon (que depois teve o nome de Afonso, chamado o Casto), as honras de Aragão e de Barcelona e ao segundo filho, Pedro (que depois teve o nome de Ramon Berenguer), o condado da Cerdanya, a senhoria de Carcassonne, todas as honras e os feudos que os Trancavel tinham por ele, e os seus direitos em Narbona, com a condição de que Pedro tivesse tudo isso em homenagem, fidelidade e serviço de Ramon. Enquanto fossem menores de idade, ambos os irmãos ficariam sob a tutela de Henrique II da Inglaterra. Sobre a Provença, que naquele momento estava sob o governo legítimo do sobrinho, Ramon Berenguer III de Provença, o testamento não diz nada.

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[1] Texto traduzido do catalão por Luciano José Vianna, membro do Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio (IBFCRL) e aluno do Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações Políticas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Orientador Prof. Dr. Ricardo da Costa (www.ricardocosta.com).


   
 
Miniatura de Ramon Berenguer IV e a sua esposa Peronella, filha de Ramir II de Aragão, no Rotlle de Poblet (séc.XV).

Castelo de Miravet conquistado por Ramon Berenguer IV no ano de 1153.

Mosteiro de Ripoll. Ramon Berenguer IV contribuiu para a confecção de cruzes e do baldaquino de prata do altar maior.
 
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